Eu era feliz e não sabia







A frase eu era feliz e não sabia, não podia ser mais verdadeira...

Quando somos crianças/jovens questionamos todas as decisões dos nossos pais, achamos sempre que são muito duros ou injustos connosco e nunca nos entendem.

Achamos sempre que as nossas ideias são mais validas e assertivas que as deles...

Queremos chegar tarde a casa, queremos ir dançar todos os dias (não foi o meu caso hahaha), queremos acordar tarde, nos baldar a escola, só queremos viver e nada de responsabilidade.

Na hora de assumir os ralhetes e palmadas reclamávamos e chorávamos como se fossemos os donos da verdade, como se estivéssemos certos...

E muitos de nós crescemos a dizer "Eu vou ser um pai diferente", "Não vou fazer isso com os meus filhos", "Vou ser uma mãe que conversa e não vou bater nos meus filhos"

A verdade é que após sermos pais e passar a fase em que os nossos filhos nos vêem como os heróis, que estão sempre certos é que passamos a entender os nossos pais. 

Compreendemos que levamos o tabefe na hora certa, e os ralhetes que apanhamos foram poucos.

O pior acontece com os pais permissivos, aqueles que se anulam desde que o filho nasce, aqueles que fazem todas as vontades dos seus bebés, porque eles são crianças e não podem receber um "Não". 

Esses são os pais que mais sofrem, porque só tarde e má hora dão conta que perderam o controlo da situação e os filhos se perderam. 

Tomam atitudes drásticas para reverter a situação, mas já não alcançam o desejado, nem conseguem recuperar o respeito dos filhos.

É triste de se ver, muitos apontam o dedo, criticam e dizem "se fosse comigo", mas ajudar que é bom ninguém faz. Ninguém faz porque, na verdade, não sabemos como fazer, sim, isso mesmo, a maioria de nós, "Pais", não sabe como ajudar outro pai, que se encontra na situação de perda total e completa do controle e educação dos seus filhos. Somos os primeiros a apontar o dedo, mas não temos soluções para apresentar, só críticas e murmúrios.  

A verdade é que hoje em dia é muito comum vermos jovens desorientados, como que perdidos no mundo e a nossa primeira preocupação e proibir os nossos filhos de serem amigos ou andarem com este jovem. Não percebemos que com essa atitude estamos contribuir para esse jovem nunca se orientar, estamos a marginalizar um ser humano que precisa de todo apoio. 

Não o fizemos isso por maldade, mas temos medo, sim, medo, muito medo de perder o controlo dos nossos filhos. Os filhos não vêem ao mundo com um manual e o processo de educação é uma tentativa de acertos, sendo que todo o acerto é uma victória que queremos manter eternamente, logo não podemos permitir que alguém de fora venha colocar por terra todos os esforços feitos. Acreditamos que assim estamos a proteger todo investimento feito na educação dos nossos filhos.

Dizer que alguém estava 100% preparado para ser pai é uma utopia, por muitos livros que venhamos ler, ou por muitas teorias que tenhamos aprendido, ninguém este verdadeiramente preparado, para ser pai, pois as coisas nunca saíam como planeadas.

 Nem os pais de mais de 3 filhos têm a domínio da ciência, porque cada filho é único, com as suas manias e carácter bem distinto, quando pensas que encontraste o segredo de educar,   nasce um filho completamente oposto e que reage mal a tudo o que funcionou com os outros, ai da vontade de chorar, hahahhaha.

Sim, chorar porque ficamos perdidos sem saber o que fazer. Sem entender onde estamos a errar, afinal já conseguimos acertar uma vez, então onde está o erro? Por que não está a funcionar agora? O que esse criança precisa que não estamos a perceber? 

Aí lembramos dos nossos rompantes quando éramos jovens, e dizíamos aos nossos pais "eu vou ser um pai diferente, não vou ter filhos rebeldes", "vou ser um pai amigo"...

Com nostalgia lembramos das palavras dos nossos pais "quando tiveres os teus filhos educas como quiseres", "na minha casa mando eu", "os teus filhos vão-te fazer isso" e do nada estamos nós a dizer a mesmas coisas, as mesmas palavras, pós é nesta altura que percebemos que não sabemos mais do que eles sabiam.

Os nossos pais passaram pelo mesmo processo, ninguém os ensinou a educar filhos, eles também tinha medo de errar e fizeram o melhor que sabiam com o conhecimento que tinham na esperança de que nos tornássemos homens e mulheres de bem. 

Nesta altura a nossa ficha cai e entendemos os esforços que os nossos pais fizeram para nos educar e criar, entendemos que nada é garantido, que educar é um eterno aprendizado, que começa na hora que temos os nossos filhos nos braços pela primeira vez.

Aprendemos que nada é previsível, e que tudo influência na educação e criação dos filhos. Aprendemos que devemos ser pais amorosos, atentos, duros, carinhosos, ouvintes, compreensivos e sempre firmes. 

Aprendemos que apesar de conversar, devemos impor limites, pois criança necessita de limites.

Entendemos que não vamos acertar sempre, mas não devemos desistir. 

Aprendemos a colocar de castigo, a ouvir choro sem ceder, dizer não na hora certa e colocar no colo quando necessário. 

Entendemos que os ralhetes são necessários e fazem parte da educação e que sem eles perdemos o controlo de tudo. 

Percebemos que queremos o mesmo que os nossos pais, que os nossos filhos se tornem homens e mulheres de bem, filhos de que nos orgulhemos de ser pais, assim como sabemos que os nossos pais se orgulham de nós.

Nesta hora entendemos os nossos pais e agradecemos por todos os ralhetes e castigos, até pelas palmadas, pois aí já estamos na fase do "Eu era feliz e não sabia".


Por: Ema Rodé Gapis




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